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MISTAGOGIA DO SACRAMENTO DA ORDEM

Segundo o Papa Paulo VI, na Constituição Apostólica Pontificalis Romani Recognitio (18.06.1968), pela sagrada Ordenação, alguns fieis são instituídos em nome de Cristo e recebem o dom do Espírito Santo, para apascentar a Igreja com a palavra e a graça de Deus. Estes são os Bispos, Presbíteros e Diáconos.

O sacramento da Ordem se configura em três graus: o primeiro grau é o Diaconado, o segundo grau é o Presbiterado e o terceiro grau é o Episcopado, que é a plenitude do sacramento da Ordem ou o sumo sacerdócio como diziam os Santos Padres.

Na Igreja latina, seguindo a tradição da Igreja primitiva, após o Concílio Vaticano II foi restaurado o Diaconado permanente. Assim, temos os “diáconos permanentes” (homens casados, maiores de 35 anos e com no mínimo 05 anos de vida matrimonial – Diretrizes para o Diaconato Permanente, 142 – sendo mais comum; ou homens solteiros celibatários), e os chamados “diáconos transitórios” (diáconos chamados ao Presbiterado, exercendo seu ministério diaconal durante, pelo menos, 06 meses, conforme o Direto da Igreja).

Aos Diáconos, “são-lhes impostas as mãos, não para o sacerdócio, mas para o ministério. Fortalecidos com a graça sacramental, servem ao povo de Deus na diaconia da liturgia, da palavra e da caridade, em comunhão com o Bispo e o seu presbitério”. A sagrada Ordenação se confere pela imposição das mãos do Bispo e pela Prece de Ordenação com que se bendiz a Deus e se invoca o dom do Espírito Santo para o exercício do ministério. Esses dois elementos são essenciais para qualquer grau da Ordem.

São Justino (103-164) e Tertuliano (160-220) afirmam que aos Diáconos é confiada a tarefa de levar a Sagrada Eucaristia aos doentes retidos em casa, a administrar o batismo e a dedicar-se à pregação da Palavra de Deus.

Na Didascalia apostolorum (ano 225), o Diácono é chamado “ouvido, boca, coração e alma do bispo”.

Conforme a Traditio Apostolica de Hipólito de Roma (170-236), o Diácono está à disposição do Bispo para servir a todo povo de Deus e cuidar dos doentes e dos pobres; é chamado a ser amigo dos órfãos, amigo dos que cultivam a piedade, amigo das viúvas e fervoroso de espírito.

Quais ministérios exercem os Diáconos?

Pela imposição das mãos, feita desde os Apóstolos, os Diáconos são ordenados para cumprirem eficazmente o seu ministério. A partir da Ordenação diaconal, o candidato ingressa no estado clerical e é incardinado em alguma Diocese ou prelazia pessoal. Em síntese, Paulo VI na Carta Apostólica Sacrum Diaconatus Ordinem (18.06.1967), define os ministérios que exercem os diáconos: a) Administrar solenemente o Batismo; b) Conservar e distribuir a Eucaristia; c) Assistir e abençoar o Matrimônio em nome da Igreja; d) Levar o Viático aos que padecem; e) Levar a Eucaristia aos fiéis; f) Administrar os sacramentais; e g) Oficiar exéquias e enterros.

Conforme a Tradição, o Diaconado floresceu na Igreja de maneira admirável, oferecendo um testemunho magnífico de amor ao Cristo e aos irmãos, sobretudo, pela realização de obras de caridade, celebração dos ritos sagrados e desempenhando tarefas pastorais. Os diáconos servem o povo de Deus na Diaconia da Liturgia, da Palavra e da Caridade (cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 29).

Pela livre aceitação do celibato perante a Igreja, os candidatos ao Diaconado se consagram a Cristo de um modo novo. É conferido aos Diáconos o múnus da Igreja, que louva a Deus e interpela a Cristo, e por Ele ao Pai, de modo que devem rezar a Liturgia das Horas em favor de todo o povo de Deus e da humanidade.

O rito celebrado

A Tradição Apostólica de Hipólito de Roma (séc. III) apresenta de maneira simples e sóbria os ritos de Ordenação de Bispos, Presbíteros e Diáconos. Nessa tradição, o rito central e comum às três ordenações é a imposição das mãos, em silêncio, e a prece de ordenação. Contudo, o gesto e a prece possuem características próprias para cada uma das ordenações.

Nos interessando pela Ordenação Diaconal, o texto prevê que para ordenar um diácono somente o Bispo lhe imponha as mãos: “na ordenação do diácono, só o bispo impõe as mãos porque o diácono não é ordenado para o sacerdócio, mas para o serviço do bispo”. Também nessa ordenação o Bispo eleva a oração a Deus, Aquele que tudo criou pelo seu Verbo.

A história do sacramento da Ordem possui uma evolução bastante disforme: há muitos elementos enriquecedores, os quais, às vezes, obscureceram sua teologia. Nessa trajetória, por exemplo, o Concílio de Florença, no ano de 1439, declarou que esse sacramento se realizava pela entrega dos instrumentos do culto: ordenava-se um presbítero pela “entrega do cálice com o vinho e da patena com o pão”, e um diácono pela “entrega do livro do Evangelho”. Esse Concílio não mencionou a ordenação episcopal, pois havia divergências quanto à sacramentalidade da mesma. Tal compreensão durou até o momento em que o Papa Pio XII, usando de sua “suprema autoridade apostólica”, decretou e estabeleceu que o gesto central do sacramento da Ordem para o Episcopado, o Presbiterato e o Diaconado é a imposição das mãos e a prece de ordenação (Constituição Apostólica Sacramentum Ordinis, 30.11.1947), retomando, deste modo, a antiga tradição da Igreja presente no século III.

Foi essa a compreensão sacramental que a Igreja, após o Concílio Vaticano II, assumiu ao editar o novo Ritual de Ordenação de Bispos, Presbíteros e Diáconos, aprovado pela Autoridade Apostólica do Papa Paulo VI, em 1968 (nn. 44, 130-131, 206-207).

O Rito da Ordenação Diaconal tem início após a Proclamação do Evangelho e é composto pelos seguintes momentos:

Eleição do Candidato: chama-se o candidato ao Diaconado e este é apresentado ao Bispo. Sem amparo nas rubricas litúrgicas, mais já bastante difundido, é comum acontecer neste momento um breve testemunho;
Homilia;
Propósito do Eleito: momento em que o candidato manifesta o desejo de assumir o ministério do Diaconado, fazendo publicamente seu propósito de se consagrar inteiramente ao serviço da Igreja, ser um colaborador da Ordem sacerdotal, proclamar a fé dos Apóstolos, abraçar para sempre o celibato, rezar a Liturgia das Horas, e imitar sempre o exemplo de Cristo. Também aqui promete respeito e obediência ao Bispo Diocesano, plenitude da Igreja;
Ladainha de todos os santos: o eleito se prostra no chão e com a assembleia pede-se a intercessão de todos os santos e santas de Deus pelo seu ministério;
Imposição das mãos e Prece de Ordenação (elementos centrais da ordenação): o eleito se ajoelha diante do Bispo que lhe impõe as mãos sobre a cabeça. Em seguida, o Bispo suplica ao Espírito Santo que fortaleça o eleito com os sete dons a fim de exercer com fidelidade o seu ministério;
Revestimento: o eleito recebe as vestes diaconais (estola diaconal e dalmática) como sinais do ministério assumido. Seguindo a liturgia neo-diácono é revestido pelos outros diáconos que compõe o mesmo grau da Ordem, entretanto, como nem sempre existe o Diaconado permanente ou transitórios, alguns presbíteros, com os pais do eleito, foram convidados a revesti-lo;
Entrega do livro dos Evangelhos: ajoelhado diante do Bispo, este lhe entrega o Evangelho de Cristo, do qual foi constituído mensageiro;
Acolhida no primeiro grau da Ordem: O Bispo acolhe o neo-diácono com um abraço da paz, e em seguida os diáconos presentes.
Teologia

Muitas vezes, aparece na Bíblia a imposição das mãos, sendo igualmente variados os significados desse gesto. Aqui faremos referência a alguns textos nos quais a imposição das mãos confere a membros do Povo de Deus o Espírito Santo e um ministério.

No Antigo Testamento, Josué recebeu o Espírito do Senhor e o ministério de guia do povo de Israel por uma imposição das mãos do próprio Moisés. “O gesto, nesse caso, simboliza a comunicação do poder e da autoridade, mais especificamente do espírito, porque aquele que recebe o cargo de guia da comunidade de Israel deve possuir o espírito”.

As primeiras comunidades cristãs deram continuidade a essa Tradição. Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos e sobre estes veio o Espírito Santo (cf. At 8,17). Em Éfeso, Paulo impôs as mãos sobre os que tinham sido batizados e o Espírito desceu sobre eles (At 19,6). Os Apóstolos, tendo orado, impuseram as mãos sobre os Sete Diáconos (Estevão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Tímon, Pármenas e Nicolau de Antioquia), encarregando-os de servir aos mais necessitados (cf. At 6,6); os anciãos de Antioquia as impuseram sobre Paulo e Barnabé, enviando-os em missão (At 13,3); também Timóteo recebeu um o “Dom da graça de Deus” e um ministério por imposição das mãos de Paulo e dos presbíteros (1Tm 4,15; 2Tm 1,6). Além dessas passagens, a Carta aos Hebreus fala, igualmente, da doutrina da imposição das mãos (cf. Hb 6,2).

Na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma o ministério ordenado é conferido, como dissemos, pela imposição das mãos e prece de ordenação. Mas, sendo um gesto comum às três ordenações, ainda que realizado de modo específico em cada uma delas, ele requer a Prece, cujas palavras deixam claro o significado do gesto, isto é, qual ministério que está sendo conferido. Por isso, unida à imposição das mãos, a Prece de Ordenação é necessária! Nela aparecem de modo inconfundível “os efeitos sacramentais – isto é, o poder da ordem e a graça do Espírito Santo”; por ela, a Igreja “bendiz a Deus” e “invoca o dom do Espírito Santo para o exercício do ministério” (RO, n. 6).

Ao ordenar Diáconos, a Igreja louva a Deus (I parte), “fonte de todas as graças”, pois distribui responsabilidades, serviços e ofícios, a fim de que cresça “com admirável unidade, pela força do Espírito Santo, o Corpo de Cristo”, a Igreja. Ao lado da tipologia dos “filhos de Levi”, escolhidos “para o serviço do antigo santuário”, estão os “sete homens de bem”, escolhidos para ajudar os apóstolos “no serviço diário”. O serviço do “altar” e dos “pobres” se complementam mutuamente no ministério diaconal. Ao centro da oração (II parte), o Bispo suplica: “Enviai sobre eles, Senhor, nós vos pedimos, o Espírito Santo que os fortaleça com os sete dons da vossa graça, a fim de exercerem com fidelidade o seu ministério” (RO 207). O Espírito invocado é o Espírito que fortalece com a graça dos sete dons (cf. Is 11,1-2), concedidos a Cristo em sua missão messiânica; será no Espírito que os Diáconos poderão exercer com fidelidade o próprio ministério. Ao final (III parte), a oração refere-se à vida dos diáconos, mais do que à sua missão; o exemplo a ser imitado é sempre o do Filho de Deus “que não veio para ser servido, mas para servir” e assim poder, um dia, “reinar com ele no céu”.

Padre Maxssuél da Rosa Mendonça

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